Lição literária

Meu professor de literatura
sempre me olhava
com aquele olho
cabresto, ele sabia a minha cura

Pra ser honesto, criticava tudo
que eu escrevesse ou fizesse
Ele me deixava de molho:
aprendendo.

-"Vejo sua fascinação
por devaneios,
mas não seja ingênuo,
ainda é cedo".

Nas provas, acho que o dava prazer,
das letras que entre todas restavam
pra me classificar, escolhia a "Z"

E eu que era atraído por ele,
minguava, ignoto, pensando:
"seu escroto"
Era como quem esbarra,
na mão de um outro, salva o copo,
mas já se entornara o leite todo

Com certa dose de boa intenção,
por respeito próprio ou medo
naquele dia, cheguei cedo
e colei um verso do Manuel,
no quadro, por puro enfeite

"Porque os corpos se entendem, 
mas as almas não".

O prof. desatento, pra mim rezava a lição:
-"nem tão cedo, você teria futuro em minha cadeira"
Nada de mais, aqui entre nós?
Deu a maior, Bandeira...

Depois disso, ficou meio azedo
Eu que até queria ser como ele,
sobressaltado, de fato,
abandonei o pesadelo.

Acordado pela manhã, o que é raro,
É o que resta a dizer:
minha alma, não presta.
Agora, sem beijo ou carona de carro.







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