Erro de Carioca (para Maria Helena Zamora)

quando  o estado carioca chegou
sentou o pau na aldeia,  
de tão oco o patrão
que cena!
fosse  uma oca
teria sido um evento 
de grande dimensão

Escutava a música de Maria
numa Copa do Maracanã
Quando enterrei meu coração

Tonto de tanta doçura, da pimenta na cara
Soltei, reinventei o reverso daquela canção

"Quando o estado chegou e o carioca gritou
enterrou o coração, e foi com certezas impunes
numa Copa do Maracanã"


Era um trecho batido, agora mensagem que o índio
duvidou ser tão vã. Que enterre a caligrafia na pele
Quem sabe você também enterre
as Curvas do Rio o procedem, DR:

Das ordens capitais, emergiam atos letais
Eram carros ornamentados por caveiras reais

que melhor representa o horror?

"Para quê museu,
se a aldeia não serve?"

do som dos pássaros, que não será mais seu
no sexto dia a vitória perdeu, o carioca que erre...

Enterrei meu coração
numa Copa do Maracanã

Índios, negros, mulatos, brancos, mulher e homem
velhos... crianças, tantos estudantes passeavam
Ainda que pacificamente se faça, ou se falha
O estado da justiça despontava disso outro nome,
sacudiram o índio mais que a uma maracangalha

antecipando-se aos jogos no imundicípio
Chegou primeiro, mas perdeu o índio
foi um erro olímpico!

Maracanã em estado ôco
Passou-se em branco, por pouco
seria uma Oca, ah! Maracanã, 
quem sentirá o toque de Tupã?


Enterrei meu coração
numa Copa em Aldeia Maracanã


Quem sabe você também dance
as Curvas do Rio merecem, dança

Mas agora qual um fim
Levarão carros pra estacionar, até shopping
Pra quê você a odeia?
e os restos de hoje, todos p´ra cadeia:

"Será de alegria, será de tristeza"?
Coração faz o rumor da veia.

Mas se ali eles não cabem, 
nem mesmo eu e nem você, 
o que passamos fluiu, pra romper
o embuste
o entrave

se pra que alguém mostre competência
encerro algo ali, suspeita nossa urgência 

se ainda ouço o canto dessas aves
também são meus antepassados
a aldeia, a esperança, pra que seja... tão grave

que sequer sou rio
Enterrei meu coração, 
como um recado, rasgado.
Filho de índio é audaz...


Enterrei meu coração
numa Copa em Aldeia Maracanã

Quanta mentira risonha, essa copa nos traz.



                                               (Araújo Roddriguez, pelo espírito de Oswald de Andrade)

















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