Curto o (in)dispensável

Dissolvência,
a minha assustada surpresa vem daí!
e a sonolência que se vá, pois pressenti
que é esse copo à frente
apenas outra garrafa a esvaziar

e sem que o amargo a procure
a dor
do coração, do já se seguiu,
ouve-se, nessa noite
o acorde sujo
que chora o duro, assim,
o medo enjoa, a morte não

do que não dura em si
a doçura é o que há,
que agora é posta
à fora, sem razão

se um preferir
outro a chorar,
enquanto um corpo
em urgência cobre-se
em algum lugar

se se dirige o sono ao outro
à cama,
o estorvo, opaco, caído às mãos
ficou desacreditado, fio posto
ao longe devagar,
o copo cobra - à prova de apagar -
a dor de um entreolhar



Moonlight para Orfeu

                 
Furta-me 
o que trouxe 
o degradê tatuado 
em meu peito

As forças desse vento que
Leva-me o sono.
Estiveram tão longe assim
os meus pensamentos?

Que agora trazido o frio
para tão próximo
tão bem reconheça-o, com a clareza
e a ironia de um "está ainda por aqui?"


por cima do peito
marquei-me com o tom das cinzas  
Rouba-me, as cores ainda teimam... 
ainda que restem só as nuvens sobre esse coração,


não é verdade que o céu permanente,
ao bem e ao mal, reinventa-se?
e o sol e a lua
desde de sempre,
reinam?

por sobre as miudezas acolhidas
no espectro entre os bolsos e os olhos humanos
Sopra-me o intervalo impossível
como a surpresa das palavras mal escolhidas

por trás de uma breve mentira
Deixa-me, para que entenda
como o ruido da cobiça
tomou conta dos espaços antes livres 

Ao duvidar em campo aberto
de cada pestanejar, ainda vivo,
demite de tuas pupilas,
a ilusão de ótica mantida
entre a chuva e as lágrimas

Rompido o selo de dez dedos por sobre essas mãos
Deixa a névoa tomar seu lugar,  "chegou tão cedo, não?"
esses passos que alucino, correm de mim ou ao meu encontro?
Porque se tornou tão difícil acolher a diferença numa manhã

Talvez porque a noite tomou todo o meu tempo
e o fio de sol, que eu suspeito riscar o vazio,
a lua a ele não empresta a visita de outra paisagem
Então, se não beijarei a lua, caçarei as estrelas

Desfazendo-me da tatuagem, já sem medo
como quem se desfaz da rima dos antigos
e breves sonetos, ao som da lira de orfeu,
perseguindo o inferno desse inverno.










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