STOP! o ensaio

ser o morador de rua é para alguns,
uma tosse.
não será apenas de passagem,
parado aos meus pés calçados,
não será.

Não será
também para alguém
como as guimbas dos cigarros?
não é, para muitos... alguém
pessoa,
rara-

mente
veríamos,
mas se
não as pegam
com as próprias mãos
desejaria-se,
que estivessem
sobre outros olhos,
sobre outra repartição,
sem morador de rua
não há rima
possível
não se tornou bicho
o próprio bicho de rua
ainda que há quem jogue nele,
então jogue esse fácil capricho
no lixo, e salve o bicho!

ou antes se fizessem
do bicho homem um ser reciclável
muito trabalho para
os que a possuam,
as mãos e as guimbas
em mãos,
nesse Estado,
não necessariamente em sua ordem,
e nem iremos pensar que o estado ocioso não dê algum trabalho!

Respira-se fundo e vai-se aos pulmões
a sentença:

estas ruas estão carentes...
de "limpeza"

que
diga-se, de passagem

não é
para muitos,

a governabilidade

mas alguns ao dar esmolas tem mente limpa, e muita platéia e muitos votos...
de que: vá à merda! Saiam da estrada, que esta por mim será pavimentada!

Já, quanto a mim, que não costumo
pisar nesses seres, tão reis dos pedaços,
dos pedaços de cidade e de humanos,

ofereço bebidas por sinal logo de cara, e bem fortes!
desgovernados, façamos logo um coquetel à beira da estrada.

O sujeito me chega pedindo, pão? almoço? ir e vir?
meu irmão, você precisa é de cachaça!
A limpeza deveria ser tão ética, e etílica, que ninguém
deveria mais lustrar sapatos,
poderíamos andar descalços pelas ruas.
Num diálogo imaginário:

- À vontade, meu senhor?!
- Pois sim, te agradeço... os pés aos seus pés
- Como está o dia?
- continua lindo, com certeza. E o sr e sua sra?
- A patroa tá cuidando dos pivetes, estão por aí!
- Ei, é seu filho esse aí? isso tá com cara de craque!...
- me tira dessa! aqui nesta cidade tudo é compulsório -
ô, país do futebol, goleia! - chega de entrave!

Estão na cidade:
o pulmão de rua
o morador de rua
o craque de rua
e têm sido extintos pela competição desleal dos que aspiram
gasolina, diesel, álcool!?

tudo bem! muito bem.
os moradores também consomem, álcool, por exemplo.
Porém, eles simplesmente caem, depois.
Dá até para, desafogar as mágoas...


Vejam só, os motores por todos lados expiram nas ruas, estacionam nas calçadas.


não será
para alguém,
o consumo
de derivados
(lícitos ilícitos)
 e tusso e tusso e tusso
o que torna a vida da cidade um bicho
metálico que devora, e expele lixo
e mata animais?

morrem cães, homens, entre outros animais
perdoem perdoem e culpem os motores, pois
competem com os pulmões
competem com os moradores
competem competem competem
as ruas, as ruas se comprimem
ninguém mais se cumprimenta


Não seja injusto, essa cidade é tão educada!...
todos pagam impostos, propinas e multas.
É a civilidade mútua fazendo seu regime.


e... o que se opõe ao regime, nos faz ganhar
mais um morador de rua!

todos engarrafados,

...mas é um termômetro!
Ora, de quê?...

das condições de trabalho.
Trabalho sobre certas condições
de temperatura e pressão
desenvolve o progresso,
motor do sucesso e da sucessão,
de mais ócio, que ninguém abra mão.

são multidões das ruas,
os congestionamentos são grandes gulags,
é o lazer, mútuo prazer, estou de carro.

ou seriam em verdade
congesti-ornamentos?
línguas e mais línguas,
o som dos batidões,
costas quentes
línguas pavimentadas,
muito bem aquecidas.
Calor humano!

A cidade fica mais produtiva,
mais bela e poliglota,
e se entendendo,
com muitos
automóveis.

Mais profética,
vejam só

enquanto um diz:
 que calor!?

o outro:
STOP!



Araújo Roddriguez


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