Longe ainda, dura quanto?

o quanto for,
apodere-se
dos meus
sentidos
e não
sentidos

ainda, duram

olhares,
ouvidos,
lábios,
pegadas,

roube,
meu tempo
pra que
eu perca
não peço
nem preciso
apenas ganhar,
novamente

essas roupas pesadas

instale-se em
meu coração
como
sangue
em seu
curso

ainda, pulse


dai,
em diante,
espalhe-se em
meu corpo
como um,
e não outro,
vírus maltratado

ainda, misture

infeccione-me
os órgãos
caducos:

do desrespeito
do desamor
do desespero
do desengano
do desamparo

em lugar deles, doa-me

para que
desejando
alguma vida,
de forma
generalizada,

saiba disso
e que chova,

nossos vícios
nossos erros
nossos pecados
fiquem mesmo sem remissão
frente aos olhos alheios, desconsolados

mas, ainda
algo tateante
duvidoso
delirante
displicente

incida dessa nuvem cinza
atravesse o corpo pálido

amanhacendo
entardecendo
anoitecendo
madrugando

"em febre"
seja a premissa
para
notícias urgentes

fique, ainda

porém agora
perca tempo
para

o riso intenso
o choro com lugar
o abraço inacabável

ainda?
ainda dura, 
Longe é quanto?

a gente se
contaminar
com esse germe
tão indispensável
do cuidado

pra manter o estranhamento,
ainda, doentes

preservando alguma saúde
ao opor resistência 
a nossa performance

ainda, incuráveis

sem que jamais deixemos
de faze-la valer
o risco
de pulsar
corações

ainda, nus
mesmo, 
desencaminhados









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