Mala sem alça (Heterônimo AR)


O que tenho em minha mala?

o poeta,
querem?!...

não tem alça,
já alçou vôos solos
tem chão e arrasto
de asas partidas


urrando com palavras
soltas, num sei pra quê
aleijado
na velocidade do temível

lampejo


quando
o obvio... álcool,
mesmo repaginado,
e barato,
incinerante,

fere a fogo
o rosto
dos senhores?

furando
novos buracos
e rasgos
inimaginados, desce...

Querem.

quando
horrores sem comoção
são poesia,
o poeta...

cospe a frio
o colo
das senhoras?


Ainda, querem?
como, querem?
entre tanto

o poeta
não é pra quem merece!
ele!!! é quem se merece.

tê-lo
um poeta, uma criança, um poema...
tantos reconhecem
quantos sejam
se
a hora
pousa,
e quando
desconforta: saem!...

pois se: sua, assoa, esbarra, mija, caga, suja, vomita, choca, fede, pisa
hora?! se afastam?...

poeta xinga poeta,
poeta trai poeta,
poeta come poeta,
sei que sou fútil...
meus amigos,
poeta cria fastio.


poeta

cansa,

 afinal, porra!
quem aguenta essa vida inteira inútil?

nada, de poetas
enquanto vocês
querem tudo...
maltrapilho
o que vocês
não pedem

meu papel,
o valor e o teor
dessa coceira, só se mede
pelo pavor,
mesmo...
de se reconhece-la
no espelho
interior da indiferença

quando o poeta te saúda?
quem se disse poeta?
poesia é alguma outra coisa,
a mala está pronta
às vésperas de alguma doença


                           Araújo Rodriguez















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