vê?
hoje
a fome
não só
a fome
não acaba
como a fome
há de consumir
já qualquer bicho
ou planta, criança,
mulher, merda, homem
a fome com fome se se
confronta e jamais some:
abra a boca para nela entrar
mais fome! consome a fome, não!
acabar com a fome seria olhar para
quem some: bicho ou planta, mulher
criança, homem. Uma pedra? foi posta.
onde?
já, estive ali,
já? nela, a vi:
quem sabe, diz:
seja amanhã!
+ ninguém tira mais dali + pode
+ ninguém vira + alguém chora
+ ninguém verá + alguém roncou
+ ninguém virá + alguém pra quê?
+ não se revira + na pedra + não
+ mais de fome + não pede + nada
não + isso se foi
ontem...
Araújo Rodriguez
Mala sem alça (Heterônimo AR)
O que tenho em minha mala?
o poeta,
querem?!...
não tem alça,
já alçou vôos solos
tem chão e arrasto
de asas partidas
urrando com palavras
soltas, num sei pra quê
aleijado
na velocidade do temível
lampejo
quando
o obvio... álcool,
mesmo repaginado,
e barato,
incinerante,
fere a fogo
o rosto
dos senhores?
furando
novos buracos
e rasgos
inimaginados, desce...
Querem.
quando
horrores sem comoção
são poesia,
o poeta...
cospe a frio
o colo
das senhoras?
Ainda, querem?
como, querem?
entre tanto
o poeta
não é pra quem merece!
ele!!! é quem se merece.
tê-lo
um poeta, uma criança, um poema...
tantos reconhecem
quantos sejam
se
a hora
pousa,
e quando
desconforta: saem!...
pois se: sua, assoa, esbarra, mija, caga, suja, vomita, choca, fede, pisa
hora?! se afastam?...
poeta xinga poeta,
poeta trai poeta,
poeta come poeta,
sei que sou fútil...
meus amigos,
poeta cria fastio.
poeta
cansa,
afinal, porra!
quem aguenta essa vida inteira inútil?
nada, de poetas
enquanto vocês
querem tudo...
maltrapilho
o que vocês
não pedem
meu papel,
o valor e o teor
dessa coceira, só se mede
pelo pavor,
mesmo...
de se reconhece-la
no espelho
interior da indiferença
quando o poeta te saúda?
quem se disse poeta?
poesia é alguma outra coisa,
a mala está pronta
às vésperas de alguma doença
Araújo Rodriguez
Where is weather ? (Para Beth Pacheco)
"where is"
............. Aqui, de livre estou, tudo
................ no derradeiro, pronto, pausa
................. Aqui por, nem tudo, a passagem
................. haver sido, que é livre, deixa
............. Aqui, é onde se, entrar
......... Aqui, foi, um fim
no desusado
no desfecho
no desfiro
no defeito
no delírio
no-muito
murcho
A quis
"weather"
pó só
só
um, teempresto
precisocheirar, pó
pra ter,
precisocheirarpó
pra ter
o quantopreciso!cheirarpó
pra teroquantoestavidamedeserta
preciso...preciso...merda!
cheirarpra teresta vidade cheirar pó,pra, ser, melhor,que, a precisão
deste chão, Shhhhhhhh!
pó.
um, teempresto
precisocheirar, pó
pra ter,
precisocheirarpó
pra ter
o quantopreciso!cheirarpó
pra teroquantoestavidamedeserta
preciso...preciso...merda!
cheirarpra teresta vidade cheirar pó,pra, ser, melhor,que, a precisão
deste chão, Shhhhhhhh!
pó.
Soneto roubado
.............. , tomaste o lugar. E a asa
daquela certeza vazia a vagar
agora vazia daquele ouro, me arrasa,
carregado por mil vezes, devagar
nada resta, mesmo. Nada a arriscar
nas armadilhas, p´ra a distância que de
daquela certeza vazia a vagar
agora vazia daquele ouro, me arrasa,
carregado por mil vezes, devagar
nada resta, mesmo. Nada a arriscar
nas armadilhas, p´ra a distância que de
mim se via. A dura ação de ti, Leve.
Faltava algo na agonia a trilhar
e essa coisa doía, mas não era nada ...
ai! naquilo só, a via, eu a quisera: cara
mas em si, vê-la, como atesto: muda
ai! naquilo só, a via, eu a quisera: cara
mas em si, vê-la, como atesto: muda
nem mesmo se restasse mil a devolver
ainda uma ingrata verdade, por tão pouco...
de nada. Apenas coração oco. p´ra sofrer
de nada. Apenas coração oco. p´ra sofrer
Na Cia dos Desertores
o deserto, aberto
nessa areia, encerre
o incerto
nessa hora esfria, noutra hora se incendeia
abandona aos pés a sombra em
Sol a pino e Lua Cheia
minha sombra
encerra-me numa gaiola.
caminha sombra!
ordeno.
inutilmente...
esgotado do medonho cerco
Na cia dessa sombra
agora mesmo
o que me sobra?
Dunas de alpiste
do pão, mínguo, na algibeira
e a água? sorriste...
Só com o suor, dele a sombra se alimenta
horas circundam, futilmente
Só com o arrepio, dele a sombra se enfeita
pássaros mortos,
chão, agora vejo:
destroços miram meus ossos
por debaixo da pele, ardente
na superfície de mim mesmo
desfazendo-se em escuridão, ausente
o espirito vaga
a sede afasta
uma alma da chaga
Anseiam miscigenados na areia
desertores da existência
...e a vida insiste, o dedo em riste? apontaria
a sombra sorria
sob a nuvem, caçoam os ventos
é o que contariam
inábil atravessa ou teu sonho pereça
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