Sem palavras

Destruir palavras para quê,
se eu posso comê-las tão zen?


 se alguém poderia dizer do amor
que se diga sem palavras, recitando em corpo: Aleluia! Amém


Triturar nossa verboragia com verbofagia
 e ademais, numa oitava vibrante, c o m a l e t r o f a g i a
conduzido a uma distância instante
que fale por nós (em offset) do que interessa dizer


mor sem "a"
 parece nos levar ao inusitado:  a algo maior por fazer
entrar e sair do menu do "ABC"


Buscar sem jamais rebuscar na voz
saber que mesmo que se "erre"
não há cartilhas p´ra se aprender...
embora o amo sem "r" instigue a um amar saber
e torne tudo tão autêntico e presente, cá entre nós

a or sem "m"
é a fusão com metais, uma trilha sonora e intensa,
gema, gente, urgência
não essa que entretém e sim a que nos toma, sacode
que faz cheirar, faz fuder, faz ser manso impetuosamente


Mas e se tirassem outras dela?



am sem "or" é quase um pedido
de tradução de texto
ou de indefinição para William Shakespear
ou melhor, é a confissão do incondicional
que entre "mais" ou "menos" ou "mesmo?"
seja, pela força do ser,
traduzido ao cuspir

a r sem "mo" é já tanto sem morada
que é sem lenço e nem documento
arejar a vida pelo desejo de libertá-la


ainda que, convenhamos,  o "mo" sozinho,
seja o mais simples fluir do ar por si mesmo
reinante naquele íntimo chamamento, 
de retornar para uma casa moderada, teu corpo, meu corpo, nosso intento

Será que essa trajetória precisaria acabar
em casamento?
Não basta arruinar as palavras ao "desletrá-las"
precisaríamos ser nas letras ainda, menos contenção,
mais transbordamento
seja sem teto ou entocado
ruidoso invento

Nenhum comentário:

Licença Creative Commons
Este obra foi licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 2.5 Brasil.