Displicência própria

Escrever por sobre as fotos de um rosto, até que não se possa mais distinguir os traços. E enquanto por um momento sequer o risco se cumprir, nesse átimo teremos apenas o olhar como testemunho. Até que não restem fotografias. O olhar caça por entre as palavras o que quer que seja, límpido ou sujo, profundo ou na superfície. E sem enfeite as máscaras se desfazem, sem que saibamos ainda o que, além disso, é possível se fazer de nós. Não haverá identidade, pois a sombra não costuma ter dono, é apenas uma emissão fulgaz. Sombra, prenúncio da noite na qual, certamente, as fotografias insistem em resistir ao tempo. Para uma pequena caixa elas voltam, guardadas. E a lembrança é só o "apenas" – das tristezas e alegrias - por sob o curso da vida, ainda que baste para a vida o próprio esquecimento.

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